Da janela vejo aproximarem-se as luzes curvilíneas das estradas e assomarem-se os telhados cheios de neve…
A semi penumbra está ainda iluminada por um sol vermelhão que já se esconde à retaguarda do avião.
Não há nada mais belo que chegar de noite a uma cidade acolhedora.
Aumenta, como numa lente, a proximidade de casas e luzes, estradas e vislumbres de vida.
Tremeluzem as iluminações, nas ruas movimentam-se os carros.
As pessoas estão, por enquanto, invisíveis ao olhar mas a sua presença está em tudo pressuposta.
Já o sol se esconde definitivamente e o breu da noite aumenta na mesma proporção em que se aproxima o solo.
Curvas na estrada, porque iluminadas, parecem súbitos rios de luz, abrindo a terra que durante o dia parece tão sólida… De noite, basta um rio de luz para saciar esta sede de beleza, esta busca interior que no olhar se projecta.
Todos os pequenos ruídos do avião são familiares: as diferentes modulações dos motores, os travões, o ruído abrupto dos pneus que saem, as asas cujos flapes já se agitam, na expectativa do reencontro terrestre. E sempre as esteiras de luz, abaixo, assinalando o caminho.
As pessoas dormem ou entretêm-se a ler.
Poucas aproveitam a paisagem nocturna para se espraiarem no SER…
Nunca saberei explicar o fenómeno das cidades humanas, aglomerações palpitantes de vida, inapercebidas da maior parte.
Nunca como em Otava ou em Tóquio se apossou de mim essa sensação de mero espectador ante uma “humana colmeia” fervilhante de actividade. E no entanto, o género humano carrega a sua humanidade para onde quer que vá, da grande metrópole à mais pequena aldeia…
Aí, no alto de uma montanha, pode-se ouvir o mesmo zumbido impalpável que surge no silêncio frio da noite e nos abre ao infinito.
Com um solavanco, as rodas do avião contactam o chão. Aterrámos.
(Aterragem, 26 Janeiro 2010).
Isabel
(Fotos de Isabel)